sábado, 12 de outubro de 2013

Resenha do filme O discurso do rei

O Discurso do rei (The King's Speech) é um filme britânico, de 2010, escrito por David Seidler sob a direção de Tom Hooper. A trama que retrata a história de superação da gagueira do rei George VI, o Berthy, interpretado por Colin Firth, traz como contexto histórico a Segunda Guerra Mundial e uma narrativa contendo vários tipos de discurso.

Os tipos de discursos encontrados no filme são todos retratados por  Adilson Citelli: discurso dominante, discurso autoritário, discurso autorizado, discurso polêmico e discurso lúdico. E alguns explanados por Afrânio Garcia: discurso sedutor, discurso amoroso, discurso emocional e discurso servil.

O discurso autoritário se dá quando o rei George V (Michael Gambon) ordena que o duque Berthy vença a gagueira lendo o discurso. Impõe o dever de ser seu sucessor em lugar de Edward (Guy Pearce), em razão de ele estar com uma mulher divorciada, Wallis (Eve Best). As palavras do pai são imperiosas “faça isto!”.
O discurso dominante é percebido no momento em que o protagonista o realiza como monarca, tentando fazer com que o povo veja nele confiança em meio aos rumores da guerra. O discurso autorizado é explicitado na cena em o duque reproduz o que seus médicos afirmaram, que o cigarro relaxava os pulmões e trazia segurança.

O discurso polêmico ocorre quando Elizabeth (Helena Bonham), a esposa do duque, procura o terapeuta Lionel Logue (Geoffrey Rush) e o tenta convencer de que é ele que deve se dirigir ao duque para o tratamento. Ela também utiliza o discurso autoritário, usando o poder para alegar que o terapeuta será considerado inimigo do duque, caso continue sendo inflexível. Entretanto, Lionel no mesmo nível, usando o discurso autoritário impõe a sua vontade com a frase: “meu jogo, meu território, minhas regras”.

O discurso lúdico aparece quando o duque conta história para suas filhas. Se dá também quando Logue conta histórias para seus filhos representado o personagem. No que diz respeito a outros discursos, apresentados por Afrânio Garcia, foram encontrados no filme alguns deles. O discurso servil aparece sempre que o duque aceita as críticas negativas que seu irmão Edward lhe faz. 

Assim, internaliza-as e como uma verdade absoluta, pratica a autodesvalorização, não acreditando na sua capacidade de ser alguém vencedor. Essa autodesvalorização é vista em algumas frases como “eu sou gago e ninguém pode me curar”, “eu sinto que isso não é pra mim”, “sou gago”, demonstrando em vários momentos, o quanto ele se sente incapaz de ser um rei. Outra confirmação disso é perceptível na resposta que Berthy dá ao terapeuta quando lhe é sugerido ficar no trono em lugar de Edward. Ele alega ser isso traição, mas deixa escapar o sentimento de fracasso: “eu não sou alternativa para o meu irmão”.

O discurso sedutor surge quando o terapeuta usa a emoção do paciente para o fazer perceber que sua gagueira pode ser curada. Logue afirma que ele será um grande homem. Assim, é trabalhando a emoção e a confiança do duque que terapeuta consegue fazer com que acredite na capacidade de encarar o público. O discurso sedutor mais uma vez se faz presente, na cena em que Elizabeth consola Berthy, já rei, com palavras agradáveis a fim de o fazê-lo ir até o terapeuta para tratar-se da gagueira. Ela faz uso do discurso amoroso, com palavras carinhosas para o fazer acreditar que é capaz. O encoraja mostrando que estará do lado dele, finalmente como esposa.

O filme é encerrado com o discurso vitorioso de rei George VI, ratificando a superação da gagueira, causada pelo trauma vivido desde os 4 anos. A última cena mostra um rei acenando para o povo que o aceita como tal. O filme não mostrou as possíveis manchas de George V, pois não se preocupou em embasar suas supostas ligações com o nazismo ou seu apoio em impedir a fuga de judeus da Alemanha para a Palestina, que na época estava sob seu domínio. Segundo Rodrigo Levino, na coluna de cinema do Acervo digital da Veja de 04\02\2011, falou de uma carta da época, escrita ao Ministro das Relações Exteriores, Lord Halifax, contendo citações do rei George V, que mostravam seu posicionamento em relação à guerra.

“Estou contente que medidas nesse sentido estejam sendo tomadas para impedir que pessoas que abandonam seus países entrem em nossos territórios”, disse o rei. “É preciso alertar a Alemanha para verificar melhor a sua imigração.”

As duras críticas ao filme foram no sentido de que as informações foram caladas, a fim de esconder a verdadeira história. Embora acusado de conter discurso de caráter nazista ou antissemita, isso não o impediu de ser contemplado com sete prêmios BAFTA e quatro Oscars, de melhor ator para o protagonista, melhor diretor,  melhor filme e melhor roteiro original.
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Evanilde Miranda





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