sábado, 12 de outubro de 2013

Resenha do texto Ética, política e psicanálise, de Muniz Sodré

SODRÉ, Muniz. Ética, política e psicanálise. In: Ética na comunicação. 4ª edição. Mauad Editora: 2008.
           
            Muniz Sodré de Araújo Cabral é professor titular na Escola de Comunicação da UFRJ, jornalista e escritor de sucesso. Domina várias áreas das Ciências Sociais e Humanas, tendo sido diretor da ECO e coordenador de pós-graduação, responsável pela implantação do curso de Doutorado na ECO-UFRJ.tem publicados cerca de duas dezenas de livros didáticos, acadêmicos e também de literatura e ficção, além de ensaios e artigos, no Brasil e no exterior. 

            O livro “Ética na comunidade”, publicado pela Mauad Editora, é constituído de textos com diferentes linhas de pensamentos, e de diversos autores, bem como Muniz Sodré, com o texto “Ética, política e psicanálise”, onde inicia  retratando o sentido de ética, como o ato de morar, de se instalar num espaço, e “ethos”, no fragmento de Heráclito, como sendo costume.

Na tradução do fragmento de Heráclito, “o caráter do homem é o seu deus ou seu demônio” (p.57). Para J.P.Vernant, “Deus é a morada do homem” (idem), assim com para Heidegger, “O homem mora nas imediações dos deuses” (idem).  Desse modo, relaciona-se com uma ordem que o transcende, que o impede de autorreferenciar-se como ente no mundo. É desse “ethos” que vem o termo “ethiké” (ética), designar o conjunto dos “nomoi” (regras e valores que dão forma à territorialização do indivíduo humano, que organizam, em vários níveis a morada do grupo em um determinado lugar, intentando determina-lhe os objetos bons ou supremos, o Bem.

Para Sodré, ética é diferente de moral. Moral também é um conjunto de normas relativas à formação do caráter e da conduta do individuo, porém, diferente da ética, a moral não pretende tornar-se uma abordagem teórica, tendo como objeto, os juízos de valor sobre as ações humanas como boas ou más. Os pós-Kantianos alemães colocam a Ética acima da moral, pois a moral visa à personalidade individual, enquanto a Ética pressupõe uma “sociedade de seres morais” (p.58). Toda educação implica uma ética, quando se destina a organizar objetos consensuais das pulsões individuais e coletivas.

No que diz respeito à política, refere-se ao governo dos homens pelo Estado e ao controle dos meios para se obter um bem comum, diferente da Ética, que está relacionada ao lugar ontológico do homem. Política, embora se defina pela ideia de “morar”, como a ética, difere da mesma em razão de pressupor à autoridade, no sentido de ampliação da ordem criadora, e política pressupor poder e contradição. Na Ética, no entanto, não há contradição, há conflitos.

A força criadora da Psicanálise tem muito a ver com a Ética, segundo Sodré. Isso se dá na medida em que investiga o sintoma do sujeito em relação às regras e valores morais do grupo. “A disciplina internalizada é propriamente a moral, isto é, a ética reduzida ao costume e adaptada à autorregulação da consciência pelo sujeito da cidadania” (p.61).

Sodré conclui relacionando ética, política e psicanálise, afirmando que a Ética procede da política como instância reguladora da crise do grupo, e que na Modernidade ela só aparece dentro do circulo discursivo da política.  Se a Ética grega era uma “episteme”, a Ética psicanalítica, no interior de uma relação clínica é basicamente “techné” (conhecimento, arte, caminho).


Esta obra proporciona uma discussão sobre os vários aspectos da ética. Por trazer contribuições para o entendimento da ética em várias de pesquisa, como política e psicanálise. Desse modo, não obstante o texto trazer uma leitura com termos mais teóricos, é de grande relevância, pois contribui positivamente tanto para ampliação dos conhecimentos sobre a ética, quanto para o desenvolvimento do vocabulário e do intelectual. 

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