O Discurso do rei (The King's Speech) é um filme britânico,
de 2010, escrito por David Seidler sob a direção de Tom Hooper. A trama que retrata a história de
superação da gagueira do rei George VI, o Berthy, interpretado por Colin Firth,
traz como contexto histórico a Segunda Guerra Mundial e uma narrativa contendo
vários tipos de discurso.
Os tipos de discursos
encontrados no filme são todos retratados por
Adilson Citelli: discurso dominante, discurso autoritário, discurso
autorizado, discurso polêmico e discurso lúdico. E alguns explanados por Afrânio
Garcia: discurso sedutor, discurso amoroso, discurso emocional e discurso
servil.
O discurso autoritário
se dá quando o rei George V (Michael Gambon) ordena que o duque Berthy
vença a gagueira lendo o discurso. Impõe o dever de ser seu sucessor em lugar de
Edward (Guy Pearce), em razão de ele estar com uma mulher divorciada, Wallis (Eve
Best). As palavras do pai são imperiosas “faça isto!”.
O discurso dominante é
percebido no momento em que o protagonista o realiza como monarca, tentando
fazer com que o povo veja nele confiança em meio aos rumores da guerra. O
discurso autorizado é explicitado na cena em o duque reproduz
o que seus médicos afirmaram, que o cigarro relaxava os pulmões e trazia
segurança.
O discurso polêmico
ocorre quando Elizabeth (Helena Bonham), a esposa do duque, procura o terapeuta Lionel Logue (Geoffrey
Rush) e o tenta convencer de que é ele que deve se dirigir ao duque para o
tratamento. Ela também utiliza o discurso autoritário, usando o poder para
alegar que o terapeuta será considerado inimigo do duque, caso continue sendo
inflexível. Entretanto, Lionel no mesmo nível, usando o discurso autoritário impõe
a sua vontade com a frase: “meu jogo, meu território, minhas regras”.
O discurso lúdico aparece quando o duque
conta história para suas filhas. Se dá também quando Logue conta histórias para
seus filhos representado o personagem. No que diz respeito a outros discursos,
apresentados por Afrânio Garcia, foram encontrados no filme alguns deles. O discurso
servil aparece sempre que o duque aceita as críticas negativas que seu irmão
Edward lhe faz.
Assim, internaliza-as e como uma verdade absoluta, pratica a
autodesvalorização, não acreditando na sua capacidade de ser alguém vencedor. Essa
autodesvalorização é vista em algumas frases como “eu sou gago e ninguém pode
me curar”, “eu sinto que isso não é pra mim”, “sou gago”, demonstrando em
vários momentos, o quanto ele se sente incapaz de ser um rei. Outra confirmação
disso é perceptível na resposta que Berthy dá ao terapeuta quando lhe é
sugerido ficar no trono em lugar de Edward. Ele alega ser isso traição, mas
deixa escapar o sentimento de fracasso: “eu não sou alternativa para o meu irmão”.
O discurso sedutor surge quando o
terapeuta usa a emoção do paciente para o fazer perceber que sua gagueira pode
ser curada. Logue afirma que ele será um grande homem. Assim, é trabalhando a
emoção e a confiança do duque que terapeuta consegue fazer com que acredite na
capacidade de encarar o público. O discurso sedutor mais uma vez se faz presente,
na cena em que Elizabeth consola Berthy, já rei, com palavras agradáveis a fim
de o fazê-lo ir até o terapeuta para tratar-se da gagueira. Ela faz uso do
discurso amoroso, com palavras carinhosas para o fazer acreditar que é capaz. O
encoraja mostrando que estará do lado dele, finalmente como esposa.
O filme é encerrado com o discurso vitorioso de
rei George VI, ratificando a superação da gagueira, causada pelo trauma vivido
desde os 4 anos. A última cena mostra um rei acenando para o povo que o aceita
como tal. O filme não mostrou as possíveis manchas de George V, pois não se
preocupou em embasar suas supostas ligações com o nazismo ou seu apoio em impedir
a fuga de judeus da Alemanha para a Palestina, que na época estava sob seu
domínio. Segundo Rodrigo Levino, na coluna de cinema do Acervo digital da Veja de
04\02\2011, falou de uma carta da época, escrita ao
Ministro das Relações Exteriores, Lord Halifax, contendo citações do rei George
V, que mostravam seu posicionamento em relação à guerra.
“Estou contente que medidas nesse
sentido estejam sendo tomadas para impedir que pessoas que abandonam seus
países entrem em nossos territórios”, disse o rei. “É preciso alertar a
Alemanha para verificar melhor a sua imigração.”
As duras críticas ao filme foram no
sentido de que as informações foram caladas, a fim de esconder a verdadeira
história. Embora acusado de conter discurso de caráter nazista ou antissemita, isso
não o impediu de ser contemplado com sete
prêmios BAFTA e quatro Oscars, de melhor ator para o protagonista, melhor diretor,
melhor filme e melhor roteiro
original.
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Evanilde Miranda
Evanilde Miranda